Dia chuvoso. Esta cidade não sabe viver dias chuvosos. Acho que nenhuma cidade grande sabe. Guarda-chuvas espalhados por toda a calçada. Mas nenhum cidadão disposto e apto a desviar o seu próprio guarda-chuva de qualquer outro. Andava entre essa multidão desviando o meu de um, de outro, abaixando para um terceiro, levantando para aquele moço gigante a minha frente, enfim, realizando milhares de malabarismos. Até que, pressionado pela pressa da cidade e enquanto eu desviava dos cidadãos e de seus respectivos guarda-chuvas imóveis a meu lado esquerdo, um homem quis cortar passagem pelo meu lado direito, onde não caberíamos os dois mais os nossos guarda-chuvas e nem uma nova manobra para eu desviar do próprio guarda-chuva dele. Por isso, e confesso que também por estar um pouco cansado de desviar o meu próprio guarda-chuva sempre, mantive o meu próprio guarda-chuva firme em minhas mãos o que ocasionou uma queda de água no moço a minha direita. Saiu puto e com razão, olhando feio pra trás e me xingando até a minha décima geração. Saí puto também, com razão também, “poxa sempre desvio, estava desviando do outro lado e aí vem um passando pelo outro lado querendo que eu desviasse também”... Finquei mão e fiquei encarando-o até ele sumir. E assim, vivemos nas cidades grandes, nos odiando enquanto podíamos nos tratar melhor uns aos outros. Bastava que todos nós cedêssemos um pouco, eu, você, ele. Mas não. O que fazemos, pelo contrário, é marcar posição. O que não nos leva a nada, só a uma maior incompreensão, minha, sua, dele.
Peço desculpas públicas hoje aqui, por mim, por você, por ele.
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Um comentário:
Reba adorei o texto. Deu saudades!
Bjo, Gi
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