quarta-feira, 21 de abril de 2010

Desculpa...

Daqui do quarto em que habito, busco mil maneiras de chegar a você. Recuperar o momento em que não pude dar o que você esperou. Não tenho como voltar. Não consigo atrasar o relógio. Ele já correu demais. Mas busco ainda letras conjugadas para dizer que apesar do atraso, estou aqui. E, que se me equivoco no tempo, não erro no sentir. Está aqui. E a chaleira que tenho em mãos tem águas sempre prontas para irem para o fogão... Esquentar. Ao ouvir o som do apito, meus olhos estão atentos. E iria até onde fosse preciso, para te mostrar que eu compartilho desse seu brilho nos olhos. Que o seu sorriso alimenta o meu. Sempre. Ainda que o que você veja sejam apenas lágrimas em meu rosto.

Por não escutar...

Ela veio correndo, com uma tremenda novidade.
Ele veio cabisbaixo, remoendo o dia vivido.
Ela feliz à beça.
Ele melancolicamente fechado em si mesmo.
Ela chegou com os braços abertos para um abraço.
Ele, cabeça baixa, não viu e se sentou.
Ela disfarçou o sorriso que tinha virado sem graça e sentou-se também.
Ele, sem dar a ela chance de falar, pôs-se a reclamar da vida.
Ela, querendo desesperadamente falar, não conseguiu interrompê-lo.
Ele seguiu declamando suas lamúrias.
Ela murchou.
Ele desabafou.
Ela levantou.
Ele nem percebeu.
Ela estava grávida dele.

De A a A

ARTE

Rabiscos de mim.
Isso é o que encontraste.
Trataste de juntar os pincéis.
Contornaste minhas ausências de azul.
Preencheste minhas carências de amarelo ovo.
Desfizeste minhas inseguranças em laranja espremida.

E meu coração, que a todo o momento cri que fosse vermelho,
Mostraste-me que ele era mais que isso, que ele era ruivo cor de fogo.

Definitivamente, entreguei-me à tua arte.
Aos teus desenhos sombrios.
Que revelam.
A mim.
A ti.