Dia chuvoso. Esta cidade não sabe viver dias chuvosos. Acho que nenhuma cidade grande sabe. Guarda-chuvas espalhados por toda a calçada. Mas nenhum cidadão disposto e apto a desviar o seu próprio guarda-chuva de qualquer outro. Andava entre essa multidão desviando o meu de um, de outro, abaixando para um terceiro, levantando para aquele moço gigante a minha frente, enfim, realizando milhares de malabarismos. Até que, pressionado pela pressa da cidade e enquanto eu desviava dos cidadãos e de seus respectivos guarda-chuvas imóveis a meu lado esquerdo, um homem quis cortar passagem pelo meu lado direito, onde não caberíamos os dois mais os nossos guarda-chuvas e nem uma nova manobra para eu desviar do próprio guarda-chuva dele. Por isso, e confesso que também por estar um pouco cansado de desviar o meu próprio guarda-chuva sempre, mantive o meu próprio guarda-chuva firme em minhas mãos o que ocasionou uma queda de água no moço a minha direita. Saiu puto e com razão, olhando feio pra trás e me xingando até a minha décima geração. Saí puto também, com razão também, “poxa sempre desvio, estava desviando do outro lado e aí vem um passando pelo outro lado querendo que eu desviasse também”... Finquei mão e fiquei encarando-o até ele sumir. E assim, vivemos nas cidades grandes, nos odiando enquanto podíamos nos tratar melhor uns aos outros. Bastava que todos nós cedêssemos um pouco, eu, você, ele. Mas não. O que fazemos, pelo contrário, é marcar posição. O que não nos leva a nada, só a uma maior incompreensão, minha, sua, dele.
Peço desculpas públicas hoje aqui, por mim, por você, por ele.
domingo, 4 de outubro de 2009
Pela metade.
Pedaços de palavras.
Metades de frases.
Parágrafos entrecortados.
Discursos divididos.
Incompreensão.
Metades de frases.
Parágrafos entrecortados.
Discursos divididos.
Incompreensão.
Releituras
Parece que tudo que leio me remete a uma vida que quis viver, mas não vivi. Viagens que evitei, beijos que não dei, abraços que perdi, risadas que esqueci de dar, momentos únicos que não fotografei e que se perderam no instante em que não lhes dei atenção e, clic, foram-se.
Tenho uma ansiedade tremenda de tornar essa vida sonhada em outra, real. Mas não sei se faz sentido buscar algo que já fez sentido em outro lugar. Que direito teria eu de tirar a Alice do seu país das Maravilhas só para dizer a ela que estou atrasada, estou atrasada, estou atrasada... De que adiantaria correr para Cabul se não dá mais tempo de evitar o que já fizeram àquele menino, Hassan. E se eu fosse Amir, o que eu faria? Como atingir a redenção almejada? Todos os nossos atos são passíveis de redenção? Poderia eu viver um amor como o de Tereza e Tomás se Karenin não estivesse aqui?
Tenho medo. Tenho medo de morrer de repente, como algumas personagens morrem em muitos livros, sem a menor explicação e, pior, sem terem feito o que haviam programado para fazer.
Mas enfim, quem faz tudo que programou? Tudo aquilo que sonhou? Dizem que 10% ou menos do que sonhamos se realiza. Dizem não. Acabei de inventar essa estatística. E não sei se acredito nela, assim como não sei se acredito em estatística alguma.
Quem me fará crer?
Sigo lendo, relendo, lendo, relendo, lendo, relendo...
Tenho uma ansiedade tremenda de tornar essa vida sonhada em outra, real. Mas não sei se faz sentido buscar algo que já fez sentido em outro lugar. Que direito teria eu de tirar a Alice do seu país das Maravilhas só para dizer a ela que estou atrasada, estou atrasada, estou atrasada... De que adiantaria correr para Cabul se não dá mais tempo de evitar o que já fizeram àquele menino, Hassan. E se eu fosse Amir, o que eu faria? Como atingir a redenção almejada? Todos os nossos atos são passíveis de redenção? Poderia eu viver um amor como o de Tereza e Tomás se Karenin não estivesse aqui?
Tenho medo. Tenho medo de morrer de repente, como algumas personagens morrem em muitos livros, sem a menor explicação e, pior, sem terem feito o que haviam programado para fazer.
Mas enfim, quem faz tudo que programou? Tudo aquilo que sonhou? Dizem que 10% ou menos do que sonhamos se realiza. Dizem não. Acabei de inventar essa estatística. E não sei se acredito nela, assim como não sei se acredito em estatística alguma.
Quem me fará crer?
Sigo lendo, relendo, lendo, relendo, lendo, relendo...
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